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Inicia-se a viagem nas sombras no momento da estagnação dos mochos no
ombro da manhã. O frio virá sobre a cidade como um manto de pó cremado.
Deitarão o meu corpo numa cama de linho com o monograma bordado a pérolas.
A colina que hei-de subir é um jardim onde o ritual das flores murchará no sétimo dia.
Cumprirei o meu sonho de cavalo alado que foge para o campo de feno. Todos serão
cúmplices do adejar inútil do meu fado. A minha filha há-de ser menstruada pela
remissão da minha culpa. O castigo do sangue será leve diante da matança dos bichos
da terra. Quando aqui chegardes sabereis como estáveis enganados. As palavras que
escrevereis tranquilizarão as vossas consciências. Direis: Aqui jaz uma mulher que amamos.
Dai-lhe Senhor o eterno descanso e seja feita a paz na sua alma. Como vos enganais.
Morrerei apenas quando os bichos cobrirem o meu corpo. Aprenderei então o significado
do verbo comer. Os homens irão sobre o mundo indiferentes a este acto selvagem.
Comungarão no pão e no vinho a absolvição dos meus pecados. Derrubarão árvores e
florestas inteiras na esperança de um milagre. Mas os peixes do meu aquário não se
multiplicarão. A minha filha há-de ler esta carta quando o cheiro dos móveis envelhecer.
Será no princípio da mulher que a falsidade corta o cordão umbilical.
alice m. campos
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Bençãos de muita Luz para ti querida Alice