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sexta-feira, 9 de maio de 2008



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Inicia-se a viagem nas sombras no momento da estagnação dos mochos no

ombro da manhã. O frio virá sobre a cidade como um manto de pó cremado.

Deitarão o meu corpo numa cama de linho com o monograma bordado a pérolas.

A colina que hei-de subir é um jardim onde o ritual das flores murchará no sétimo dia.

Cumprirei o meu sonho de cavalo alado que foge para o campo de feno. Todos serão

cúmplices do adejar inútil do meu fado. A minha filha há-de ser menstruada pela

remissão da minha culpa. O castigo do sangue será leve diante da matança dos bichos

da terra. Quando aqui chegardes sabereis como estáveis enganados. As palavras que

escrevereis tranquilizarão as vossas consciências. Direis: Aqui jaz uma mulher que amamos.

Dai-lhe Senhor o eterno descanso e seja feita a paz na sua alma. Como vos enganais.

Morrerei apenas quando os bichos cobrirem o meu corpo. Aprenderei então o significado

do verbo comer. Os homens irão sobre o mundo indiferentes a este acto selvagem.

Comungarão no pão e no vinho a absolvição dos meus pecados. Derrubarão árvores e

florestas inteiras na esperança de um milagre. Mas os peixes do meu aquário não se

multiplicarão. A minha filha há-de ler esta carta quando o cheiro dos móveis envelhecer.

Será no princípio da mulher que a falsidade corta o cordão umbilical.

alice m. campos

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Bençãos de muita Luz para ti querida Alice

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