A luz e as trevas de Evgen Bavcar
"Evgen Bavcar nunca viu um de seus trabalhos, conhece-os através de descrições. Seu mundo criativo de sombras, luz e sobreposições inusitadas desafia em polémica o conceito de fotografia: "[ela] não é exclusividade de quem pode ver. Nós também construímos imagens interiores". Bavcar é cego desde os 12 anos e ainda na adolescência descobriu a fotografia. Desde então, com o auxilio da irmã mais velha, desenvolveu técnicas de captura de imagens como o alto contraste - composição da luz em lugares totalmente escuros -, o uso de feixes, de sinos e do toque. Esloveno, fotógrafo, filósofo e cineasta, explica a preferência por imagens em preto e branco pelo preço módico deste filme em relação ao colorido."
"O esloveno Evgen Bavcar é o fotógrafo das andorinhas. Fotografa-as nos mais insólitos contextos. É, como não pode deixar de ser, um fotógrafo da luz. Mas é ao escuro que ele vai desocultar a luz.
Dizem que é cego, ele próprio confirma, mas como pode ser considerado cego alguém que consegue soltar dos olhos dos outros o arco-íris em água, em luz? Evgen Bavcar, um fotógrafo que dizem ser cego, de certa maneira o é, mas não como a maioria das pessoas. Este fotógrafo que não vê consegue o feito que é dar a conhecer a luz que os seus olhos, da mais profunda obscuridade, nos revelam. À luz do seu olhar a luz resplandece na mais profunda escuridão.
Não será também esse outro criador da luz primeira a que alguns chamam Deus, abismalmente cego? Se assim não fosse como poderia ele amar tudo e todos de um amor profundamente igual? Não será o olho de Deus, esse frequentemente apresentado dentro de uma moldura triangular, um olho a tal ponto inflamado pela luz que se tornou cego e consequentemente, incondicional de brilho e irradiação? Se assim não fosse não teria já esse olho tudo arrasado sob o ímpeto do incêndio, sob o impulso da ira?
Evgen Bavcar, este fotógrafo do abstracto, é o fotógrafo de Deus. Tinha, por isso, que ser um fotógrafo cego, a tal estava destinado, apagou-se-lhe primeiro a luz de um olho, e passados uns meses, a outra vela que ficara acesa, extinguia-se também. Por diferentes causas mas por uma única razão. Guardado estava o instrumento. Terá sido por acaso que a última imagem que guarda do pai seja a de um brinquedo que este lhe fez simulando uma arma de fogo? A herança assim simbolicamente lhe foi deixada:
Com fogo ilumina e com fogo dispara. E assim faz a luz. Perante os nossos olhos de deficientes o fotógrafo que não vê cria a luz e o milagre e mostra o que se esconde para além. Porque ele é o elo entre a visão de superfície e a visão de profundidade."
Dizem que é cego, ele próprio confirma, mas como pode ser considerado cego alguém que consegue soltar dos olhos dos outros o arco-íris em água, em luz? Evgen Bavcar, um fotógrafo que dizem ser cego, de certa maneira o é, mas não como a maioria das pessoas. Este fotógrafo que não vê consegue o feito que é dar a conhecer a luz que os seus olhos, da mais profunda obscuridade, nos revelam. À luz do seu olhar a luz resplandece na mais profunda escuridão.
Não será também esse outro criador da luz primeira a que alguns chamam Deus, abismalmente cego? Se assim não fosse como poderia ele amar tudo e todos de um amor profundamente igual? Não será o olho de Deus, esse frequentemente apresentado dentro de uma moldura triangular, um olho a tal ponto inflamado pela luz que se tornou cego e consequentemente, incondicional de brilho e irradiação? Se assim não fosse não teria já esse olho tudo arrasado sob o ímpeto do incêndio, sob o impulso da ira?
Evgen Bavcar, este fotógrafo do abstracto, é o fotógrafo de Deus. Tinha, por isso, que ser um fotógrafo cego, a tal estava destinado, apagou-se-lhe primeiro a luz de um olho, e passados uns meses, a outra vela que ficara acesa, extinguia-se também. Por diferentes causas mas por uma única razão. Guardado estava o instrumento. Terá sido por acaso que a última imagem que guarda do pai seja a de um brinquedo que este lhe fez simulando uma arma de fogo? A herança assim simbolicamente lhe foi deixada:
Com fogo ilumina e com fogo dispara. E assim faz a luz. Perante os nossos olhos de deficientes o fotógrafo que não vê cria a luz e o milagre e mostra o que se esconde para além. Porque ele é o elo entre a visão de superfície e a visão de profundidade."
6 comentários:
Fiquei surpreeendidíssimo.
Impressionante......
estou arrepiadíssima, mie. muito obrigada por ter partilhado este milagre da vida e dos homens. um grande beijinho boa semana *
Só me faz bem vir aqui todos os dias. Ajuda-me a acreditar que o mundo ainda pode ser um lugar onde se pode habitar.
Amiga, este é um dos artistas que eu não conhecia mas tem que figurar, obrigatóriamente, no meu blog em que tento iluminar as nossas vidas.
Beijo
Eu também fiquei impressionada com esta sensibilidade e criatividade.
Tanto mais por ser uma pessoa invisual...mas tem um olhar na alma lindíssimo.
Realmente existem pessoas espantosas, que nos dão lições de vida.
Um beijo abraçado a todos/as.
Obrigada
lndissimo,sim!
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