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sábado, 16 de fevereiro de 2008

A luz e as trevas de Evgen Bavcar













"Evgen Bavcar nunca viu um de seus trabalhos, conhece-os através de descrições. Seu mundo criativo de sombras, luz e sobreposições inusitadas desafia em polémica o conceito de fotografia: "[ela] não é exclusividade de quem pode ver. Nós também construímos imagens interiores". Bavcar é cego desde os 12 anos e ainda na adolescência descobriu a fotografia. Desde então, com o auxilio da irmã mais velha, desenvolveu técnicas de captura de imagens como o alto contraste - composição da luz em lugares totalmente escuros -, o uso de feixes, de sinos e do toque. Esloveno, fotógrafo, filósofo e cineasta, explica a preferência por imagens em preto e branco pelo preço módico deste filme em relação ao colorido."

"O esloveno Evgen Bavcar é o fotógrafo das andorinhas. Fotografa-as nos mais insólitos contextos. É, como não pode deixar de ser, um fotógrafo da luz. Mas é ao escuro que ele vai desocultar a luz.
Dizem que é cego, ele próprio confirma, mas como pode ser considerado cego alguém que consegue soltar dos olhos dos outros o arco-íris em água, em luz? Evgen Bavcar, um fotógrafo que dizem ser cego, de certa maneira o é, mas não como a maioria das pessoas. Este fotógrafo que não vê consegue o feito que é dar a conhecer a luz que os seus olhos, da mais profunda obscuridade, nos revelam. À luz do seu olhar a luz resplandece na mais profunda escuridão.
Não será também esse outro criador da luz primeira a que alguns chamam Deus, abismalmente cego? Se assim não fosse como poderia ele amar tudo e todos de um amor profundamente igual? Não será o olho de Deus, esse frequentemente apresentado dentro de uma moldura triangular, um olho a tal ponto inflamado pela luz que se tornou cego e consequentemente, incondicional de brilho e irradiação? Se assim não fosse não teria já esse olho tudo arrasado sob o ímpeto do incêndio, sob o impulso da ira?
Evgen Bavcar, este fotógrafo do abstracto, é o fotógrafo de Deus. Tinha, por isso, que ser um fotógrafo cego, a tal estava destinado, apagou-se-lhe primeiro a luz de um olho, e passados uns meses, a outra vela que ficara acesa, extinguia-se também. Por diferentes causas mas por uma única razão. Guardado estava o instrumento. Terá sido por acaso que a última imagem que guarda do pai seja a de um brinquedo que este lhe fez simulando uma arma de fogo? A herança assim simbolicamente lhe foi deixada:
Com fogo ilumina e com fogo dispara. E assim faz a luz. Perante os nossos olhos de deficientes o fotógrafo que não vê cria a luz e o milagre e mostra o que se esconde para além. Porque ele é o elo entre a visão de superfície e a visão de profundidade."


6 comentários:

mfc disse...

Fiquei surpreeendidíssimo.

Maria disse...

Impressionante......

Anónimo disse...

estou arrepiadíssima, mie. muito obrigada por ter partilhado este milagre da vida e dos homens. um grande beijinho boa semana *

Dona Betã disse...

Só me faz bem vir aqui todos os dias. Ajuda-me a acreditar que o mundo ainda pode ser um lugar onde se pode habitar.

Amiga, este é um dos artistas que eu não conhecia mas tem que figurar, obrigatóriamente, no meu blog em que tento iluminar as nossas vidas.

Beijo

Mié disse...

Eu também fiquei impressionada com esta sensibilidade e criatividade.

Tanto mais por ser uma pessoa invisual...mas tem um olhar na alma lindíssimo.

Realmente existem pessoas espantosas, que nos dão lições de vida.

Um beijo abraçado a todos/as.

Obrigada

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

lndissimo,sim!

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